A Aprendizagem Baseada em Problemas - a promoção de competências de pensamento critico através da resolução de problemas


"Enquanto preparação do sujeito para aprender, estudar é, em primeiro lugar, um que-fazer crítico, criador, recriador, não importa que eu nele me engaje através da leitura de um texto que trata ou discute um certo conteúdo que me foi proposto pela escola ou se o realizo partindo de uma reflexão crítica sobre um certo acontecimentos social ou natural e que, como necessidade da própria reflexão, me conduz à leitura de textos que minha curiosidade e minha experiência intelectual me sugerem ou que me são sugeridos por outros."

 Paulo Freire




A metodologia da Aprendizagem Baseada em Problemas promove, como já vimos, aprendizagens significativas, mas importa, também, evidenciar o seu potencial em desenvolver nos alunos competências fundamentais para o seu sucesso fora da sala de aula (Caeiro et al., 2019) e para a sua formação como cidadãos capazes de mobilizar conhecimentos para a tomada de decisões e na resolução de problemas pessoais e sociais (Vieira & Vieira, 2005). O pensamento crítico é um dessas competências a ser ensinado e aprendido através das metodologias e estratégias de ensino ativas.

Os documentos legais que enquadram e orientam o ensino, básico e secundário, e a prática docente, sublinham a importância do pensamento crítico. A Lei de Bases do Sistema Educativo determina que a educação deve formar “cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva” (LBSE, Artº 1.º, ponto 5) o que também se encontra contemplado no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (Despacho nº 6478/2017, de 26 de julho), ambos os documentos referenciais para as decisões curriculares a serem tomadas nos vários níveis de educação e ensino e pelos diferentes decisores e atores educativos.

As metodologias ativas de ensino centradas no aluno, como é o caso da Aprendizagem Baseada em Problemas, contrariamente às que fazem uso de métodos expositivos e de memorização (ensino expositivo centrado no professor), estimulam o pensamento de ordem superior e o pensamento crítico (Caeiro et al., 2019). No ensino expositivo os alunos memorizam informação, mas dificilmente adotam um papel ativo e crítico face a essa mesma informação. Ambientes de aprendizagem ativa têm demonstrado potencial significativo para o desenvolvimento de competências de pensamento crítico e criativo, uma vez que os alunos através das atividades desenvolvidas assumem a responsabilidade pela sua aprendizagem, enquanto aos professores cabe o papel de mediadores, facilitadores e ativadores da mesma (Caeiro et al., 2019). Estas atividades exigem dos alunos a mobilização de pensamentos de ordem superior, incluindo a metacognição, ou o pensamento reflexivo sobre a própria aprendizagem, componente importante do pensamento crítico.

Segundo a teoria construtivista da aprendizagem “os indivíduos aprendem através da construção dos seus próprios conhecimentos, ligando novas ideias e experiências aos conhecimentos e experiências existentes” o que resulta numa nova ou melhor compreensão (Caeiro et al., 2019, p. 35). Na Aprendizagem Baseada em Problemas os alunos partem sempre, face a um dado problema, dos conhecimentos e conceitos prévios que já dispõem e que o mesmo mobiliza. O conhecimento é construído sobre o que o aluno já sabe sobre o problema e sobre o que deseja aprofundar para a solução do mesmo. É o aluno que constrói o seu conhecimento, partindo do que já sabe para o que deseja saber, tendo sempre o professor como orientador e mediador desse processo que obriga o aluno a confrontar os seus conceitos com os conceitos científicos, “ajudando-os a reconstruir os seus modelos mentais, com base num entendimento mais preciso dos conceitos a aprender” (Caeiro et al., 2019, p. 35).

A Aprendizagem Baseada em Problemas desenvolve a capacidade para pensar de forma crítica, uma vez que face a um dado cenário o aluno é levado a “olhar” para além das evidências e a ponderar as mesmas. Isto obriga a que o professor prepare antecipadamente cenários que desenvolvam o pensamento crítico e tomadas de posição sustentadas numa avaliação profunda dos mesmos, ou seja, devem ser capazes de estimular no aluno a compreensão profunda, a análise, a avaliação e a criatividade face a um dado problema e com vista à concretização de objetivos de aprendizagem previamente bem definidos.

É importante que os cenários selecionados pelo professor se baseiem na vida quotidiana, ligando esta às aprendizagens, uma vez que o que é desejável é que as competências do pensamento critico, a serem desenvolvidas através da resolução de um problema, sejam transferidas para a resolução de problemas futuros do dia a dia, pessoais e sociais. As aprendizagens ativas que usam problemas para a aquisição de aprendizagens e conhecimentos estimulam os alunos a assumirem atitudes e posturas críticas, a questionarem a realidade e a exercerem a cidadania participativa e efetiva.

Afinal, como diz Paulo Freire:

“Assim, em nível de uma posição crítica, a que não dicotomiza o saber do senso comum do outro saber, mais sistemático, de maior exatidão, mas busca uma síntese dos contrários, o ato de estudar implica sempre o de ler, mesmo que neste não se esgote. De ler o mundo, de ler a palavra e assim ler a leitura do mundo anteriormente feita." (Freire, 2001)



Despacho nº 6478/2017, de 26 de julho do Gabinete de Secretário de Estado da Educação (2017). Diário da República n.º 143/2017, Série II de 2017-07-26 https://dre.pt/dre/detalhe/despacho/6478-2017-107752620

Freire, P. (2001). Professora sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar (10ª ed.). Editora Olho D'Água. Estudos Avançados, 15 (42), 259 – 268. https://doi.org/10.1590/S0103-40142001000200013

Lei de Base do Sistema Educativo nº 49/2005 de 30 de agosto da Assembleia da República (2005). Diário da República n.º 166/2005, Série I-A de 2005-08-30. https://dre.pt/dre/detalhe/lei/49-2005-245336

Lopes, J. P., Silva, H. S., Dominguez, C. & Nascimento, M. M. (2019). Educar para o pensamento crítico na sala de aula. Pactor.

Vieira, R. M. & Vieira, C. (2005). Práticas didático-pedagógicas de ciências: Estratégias de ensino/aprendizagem promotoras do pensamento crítico. Saber & Educar 0 (20), 34-41. http://dx.doi.org/10.17346/se.vol20.191


Comentários

  1. Gostei bastante Fernanda! Obrigada pelo post!

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  2. Acho que espelhas muito bem aqui o que é, na minha opinião, o mais importante na ABP, o facto do foco ser no aluno e nas competências que este desenvolve na mesma, que pode utilizar futuramente na sua vida profissional e pessoal, tornando-se assim um cidadão ativo bem formado! Muito obrigada pela partilha Fernanda, gostei muito do post!

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  3. Sem dúvida, concordo com a as suas colegas que comentaram o post. Neste texto, fica muito bem claro algumas mais-valias da ABP, nomeadamente, ao nível das competências que esta promove se for bem conduzida.

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