O valor educativo das cidades e o ensino da Geografia

 

O primeiro problema a ser resolvido pelos alunos da unidade curricular de “Aprendizagem Baseada em Problemas”, segundo a metodologia da ABP, consistia na organização de um festival internacional sobre multiculturalidade, património e educação, a ser realizado em Lisboa, cidade membro da rede de cidades educadoras.

Na Carta das Cidades Educadoras é reconhecido o valor educativo das cidades e estabelecem-se os princípios que devem reger este valor. As cidades ou vilas apresentam possibilidades e recursos educadores para os seus habitantes que devem ser aproveitados com vista a uma educação para a cidadania ao mesmo tempo que se transformam em espaços de diversidade, de respeito pelos direitos humanos e pelo bem comum. A Cidade Educadora deve exercer a sua função educadora através da formação, promoção e desenvolvimento de todas as pessoas de todas as faixas etárias, numa perspetiva holística e de formação ao longo da vida. Uma educação que desperte o sentido de interdependência entre as pessoas e a natureza, promovendo o pensamento crítico e a participação ativa (Carta das Cidades Educadoras, 2020).

O estudo da cidade corresponde a um dos temas dos programas curriculares da Geografia que apresentam mais desafios aos professores, uma vez que o conceito de cidade que é ensinado na aula e nos manuais escolares não corresponde ao que os alunos percecionam como “cidade” (Esteves, 2006). Daí a necessidade de adequar os currículos às realidades, contextos e vivências dos alunos. O trabalho a desenvolver em sala de aula deve revestir-se desta flexibilidade e de uma maior preocupação com o desenvolvimento das competências geográficas essenciais que “permitirão aos estudantes a leitura do mundo próximo e distante, e a capacidade de atuar perante as mais diversas situações” (Esteves, 2006, p. 206).

Um “cidadão geograficamente competente” é o que consegue, através da aplicação de “destrezas espaciais”, visualizar os fenómenos espacialmente, relacioná-los entre si, descrever o seu meio envolvente, elaborar mapas mentais do mesmo, fazer uso de mapas, de compreender padrões espaciais e de se orientar no espaço (Esteves, 2006). Um aluno que aprenda a levantar questões pertinentes sobre temas próximos como é o caso dos que se relacionam com as cidades e os espaços urbanos e a descreverem e explicarem o que observam estão a desenvolver as competências geográficas de leitura do espaço fundamentais para a sua formação presente e futura.

Os estudos realizados em torno das cidades, da urbanização e dos espaços urbanos permitem, pela proximidade do tema aos alunos, cidadãos de um mundo cada vez mais complexo, global e urbano, desenvolver problemáticas e soluções para as mesmas que lhe despertem real interesse pela aprendizagem e correspondam a um desenvolvimento efetivo de competências. “Os problemas são tanto mais reais e significativos quanto mais próximos estiverem dos alunos, mais afetarem o seu quotidiano e a sociedade em que vivem e permitirem estabelecer relações com o que se passa no espaço de outros” (Cachinho, 2002, p. 77). 

Uma vez que os jovens vivem num mundo cada vez mais urbanizado, as cidades constituem-se como verdadeiros laboratórios vivos onde os alunos podem desenvolver capacidades de observação e análise espacial importantes para a compreensão dos fenómenos na sua dimensão espacial. De modo que o estudo das cidades deve incidir no modo como estas se organizam, as transformações de que são alvo e como estas condicionam os modos de vida. A problematização das questões relacionadas com as cidades e os espaços urbanos através de metodologias ativas, como é o caso da Aprendizagem Baseada em Problemas, é uma das mais adequadas, uma vez que colocam o aluno a dialogar com estas questões, partindo daquilo que já sabe sobre as mesmas para aquilo que deseja saber. Como refere Esteves (2006), a questão urbana está muito presente na sua visão do mundo dos jovens e é um dos temas que mais os preocupa. 

No ensino da Geografia a aplicação das metodologias ativas ao estudo da cidade promovem a autonomia e o espírito crítico e permitem aos alunos encontrar soluções através da mobilização dos conhecimentos, dos conceitos e das técnicas geográficas. Ao desenvolver a capacidade de análise critica do que o rodeia o aluno é capaz de transferir essa mesma capacidade para a análise de “fenómenos mais distantes e mais complexo” e de compreender como os diferentes espaços se relacionam entre si e “chegar a um sentimento de pertença global” (Esteves, 2006, p. 207).


Vídeo dos azulejos do metro de Lisboa (produção da aluna)

Cachinho, H. (2000). Geografia escolar: orientação teórica e praxis didática. Inforgeo, 15, 69-90. https://www.apgeo.pt/inforgeo-15

Carta das Cidades Educadoras (2020). Associação Internacional de Cidades Educadoras. https://www.edcities.org/wp-content/uploads/2020/11/PT_Carta_10x14cm.pdf

Esteves, M. H. F. (2006). Ensinar a cidade no Ensino Básico. Finisterra, XLI (81), 205-213. https://doi.org/10.18055/Finis1469


Comentários

  1. Gostei muito deste post Fernanda! O primeiro problema foi realmente algo interessante de se trabalhar! O facto de termos de ligar tantos conceitos torno o problema bastante interessante! As nossas cidades transmitem conhecimentos e é incrível como podemos aprender tanto através de objetos simples como os azulejos que monstras no teu video! E sem dúvida que a Geografia, ou melhor dizendo, a educação geográfica é muito importante para conseguirmos desenvolver várias competências importantes que nos ajudem a ter a sabedoria sobre o local onde se moramos e o mundo para pensar no espaço de uma forma consciente para assim conseguir tomar decisões firmes!

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  2. Boa reflexão que complementa a resolução do problema em sala de aula. Não poderia estar mais de acordo com as ideias que passa. Parabéns também pelo vídeo e a sua banda sonora.

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